“Ainda Não Existe a
Inclusão de Fato na Educação”
LUIZ ALEXANDRE SOUZA VENTURA
24 Fevereiro 2016 | 15:55
Professora afirma que escolas e docentes precisam de estrutura e
conhecimento para ensinar estudantes com deficiência da forma correta. Ela cita
como exemplo as conquistas de seu aluno Rafael, de 14 anos, que foi
alfabetizado em menos de dois anos.
Em 14
anos de magistério, a professora Maria Emília Abreu, de 32 anos, já encontrou
muitos estudantes com deficiência em salas de aula, mas sempre percebeu que
somente e presença desses alunos na escola não possibilitava a verdadeira
inclusão.
“Ainda
não há inclusão de fato na educação. Para isso realmente acontecer, é
necessário oferecer a estrutura correta e estabelecer os objetivos corretos,
para o aluno ter condições de alcançar”, afirma a docente, que trabalha
atualmente no Projeto Atendimento Domiciliar, do setor de Educação Especial da Secretaria Municipal de Educação de Santos, no litoral sul de São Paulo.
A
professora não precisou de muito tempo para perceber que a inclusão na educação
é conquistada por meio de mecanismos específicos, de ferramentas
especializadas, e também com a capacitação de monitores e professores.
“Estou
neste projeto desde 2014, mas nunca havia trabalhado diretamente com estudantes
com deficiência e, por isso, fui em busca de conhecimento para entender como
deveria agir e o que aplicar para cada aluno”, explica Maria Emília. Após
cursar quatro pós-graduações, a mais recente em Atendimento Educacional
Especializado (AEE) – no campi de São Vicente da Faculdade da Aldeia de Carapicuíba (Falc) – ela deve começar ainda neste ano um mestrado na mesma área.
Os
resultados da educação especializada surgem quando o docente compreende a
pessoa que está ensinando, sabe reconhecer as potencialidades desse aluno, e
também de que forma as deficiências desse estudante têm impacto em seu
desenvolvimento. Um exemplo dessa dinâmica, especialmente gratificante para a
professora Maria Emília, é seu aluno Rafael de Andrade Farias, de 14 anos.
“O Rafael tem a distrofia muscular de Duchenne
– uma condição que provoca atrofia constante, afeta todo o corpo, inclusive a
respiração -, além de um déficit cognitivo. Em nossa primeira aula, no dia 28
de abril de 2014, ele mal reconhecia as letras e conhecia os numerais somente
até o nove”, conta a professora.
Em 2013,
Rafael frequentava a Unidade Municipal de Ensino Barão do Rio Branco, em
Santos, mas sofreu um acidente durante uma brincadeira com os colegas de
classe, caiu da cadeira de rodas e quebrou o fêmur. Por isso, entre agosto e
dezembro daquele ano, ele estudou somente em casa, com docentes do atendimento
domiciliar.
No ano
seguinte, o primeiro de trabalho da professora Maria Emília com Rafael, as
aulas domiciliares foram diárias. E a evolução foi significativa. “Apesar de ir
à escola e de ter monitora na sala de aula, o Rafael era excluído porque não
havia trabalho específico. Aos 12 anos, ele nem sabia escrever”, comenta a
docente.
O segredo
desse trabalho está no detalhe, explica Maria Emília. “Em 2015 nós reduzimos as
aulas em casa para duas vezes na semana porque ele também faz fisioterapia
respiratória e outras atividades na Casa da Esperança, e seria uma carga muito
grande. Para ele aprender as letras e ser alfabetizado, usamos atualmente tablet
e computador, porque a caligrafia, para ele, por causa da distrofia muscular, é
muito difícil de executar”, diz.
Em
outubro do ano passado, Rafael e a professora Maria Emília foram juntos à
unidade do Poupatempo, em
Santos, para o estudante tirar a segunda via do RG, porque, na primeira, ele aparecia
como não alfabetizado. “O Rafael assinou o documento. É uma prova que a
educação correta, aplicada da forma certa para alunos com deficiência, tem sim
resultados importantes”, conclui a professora.
Fonte:
http://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/ainda-nao-existe-a-inclusao-de-fato-na-educacao/
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