QUEM TEM DOWN
TAMBÉM TEM VOZ
Avanço social e
cognitivo de portadores da síndrome depende daqueles que vivem a seu lado –
pais, amigos e educadores
·
Diego Antonelli
Texto publicado na edição impressa de 26 de outubro
de 2015
Um olhar de descrédito pode colocar em risco o
desenvolvimento das potencialidades de qualquer criança diagnosticada com Síndrome
de Down. Todo o avanço social e cognitivo de quem tem a síndrome está
diretamente ligado à forma como as pessoas os enxergam e apostam em suas
capacidades. O desafio é encontrar maneiras para garantir o protagonismo e a
autonomia daqueles que tem a síndrome.
Reidealização
Os pais de filhos com Síndrome de Down também precisam preparar-se
psicologicamente. Como diz psicóloga Fátima Minetto, todo casal idealiza o
sonho de ter um filho. “Ao ter um filho com Down é preciso que se tenha um
processo de reidealização. É um filho como outro, mas com características
peculiares”, relata. Isso, alerta a profissional, não impede que a criança
desenvolva suas potencialidades e competências. “
Observar e atentar-se apenas paras as limitações
não trará fruto algum. Um ponto crucial é não tratar a criança eternamente como
um ‘bebê’. É preciso deixar que faça atividades corriqueiras, como se alimentar
ou amarrar um sapato sozinho. “Olhar com desconfiança vai fazer com que a
criança nunca se arrisque e nunca aprenda a se virar”, alerta a psicóloga e professora
da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Fátima Minetto.
A síndrome de Down é uma alteração genética
produzida pela presença de um cromossomo a mais, o par 21. A psicóloga explica
que a síndrome faz com a pessoa apresente geralmente dificuldades motoras,
atraso na articulação da fala e uma aprendizagem mais lenta. “Mas não é por
isso que não pode estudar e se desenvolver”, ressalta.
Para que o protagonismo floresça, o papel da
família é fundamental. Além de apoiar o filho ou filha, a realização de alguns
acompanhamentos, como fonoaudiologia, psicologia, fisioterapia, atividades
físicas, terapia ocupacional, entre outros, pode contribuir e muito para o
desenvolvimento mental e físico. “Assim que receber o diagnóstico esses
acompanhamentos devem ser realizados para que sejam realizados estímulos
cognitivos e fazer com que as competências das pessoas cresçam”, explica
Fátima.
A assistente social do ambulatório de Síndrome de
Down do Hospital de Clínicas, Noêmia Cavalheiro, também aponta que este atraso
cognitivo pode ser bastante minimizado exatamente devido a essas atividades.
“Sem falar que a própria família deve aceitar e exigir que a sociedade não
tenha preconceitos”, ressalta.
Ideia de “doença”
ainda persegue a síndrome de Down
É preciso ter cuidado e não confundir a síndrome de Down com uma doença.
Os especialistas são taxativos ao definirem a síndrome como uma
alteração genética. Ou seja, a síndrome de Down não é uma lesão ou doença
crônica que através de uma cirurgia, tratamento ou qualquer outro procedimento
pode se modificar.
Patologias
No entanto, há algumas patologias associadas. Cerca de metade de quem
tem Down, por exemplo, desenvolve doenças cardíacas.
Algumas desenvolvem problemas visuais, motores ou respiratórios, por
exemplo. “Essas comorbidades vão se modificando conforme a faixa etária”,
explica a psicóloga Fátima Minetto.
A assistente social que atua no Ambulatório de Down do Hospital de
Clínicas, Noêmia Cavalheiro, afirma que equivocadamente por muito tempo se
pensou que Down fosse uma doença.
“Como a maioria dos seres humanos, há algumas chances de desenvolvimento
de outras doenças.
É preciso atuar desde o nascimento a fim de atuar na prevenção”,
salienta a profissional.
Qualidade de vida
Um passo para isso é justamente matricular a criança
em escola regular. O próprio contato com o meio social ajudará no
desenvolvimento psicoafetivo de quem tem a síndrome e no processo de
socialização. Afinal, conviver com pessoas de diferentes origens e formações em
uma escola regular e inclusiva pode ajudar ainda mais as pessoas com síndrome
de Down a desenvolverem todas as suas capacidades. As especialistas atestam
ainda que a estimulação precoce e o enriquecimento do ambiente no qual ela está
inserida exercem importante papel no processo de autonomia dessas pessoas. Não
é doença, mas alteração genética.
“Acreditar na inclusão é fundamental, mesmo que ele
fique um pouco atrasado na escola. Ele tem que saber que tem direitos e também
deveres”, destaca Noêmia, que presidiu o sétimo Congresso Brasileiro sobre
Síndrome de Down, realizado em Curitiba em outubro.
Assim, com todo esse leque de cuidados, a pessoa
que tem Down consegue levar uma vida como qualquer outro – pode estudar,
namorar, trabalhar. “Pode fazer tudo. A pessoa só tem um cromossomo a mais”, ressalta.
A psicóloga Fátima é contundente ao apontar que ao
minimizar o atraso cognitivo, a qualidade de vida dos Down pode ser tão boa
quanto qualquer outra.
Fonte:
http://www.gazetadopovo.com.br/saude/quem-tem-down-tambem-tem-voz-cnj9nnhv0o4mh1gwm4c9fzwm9