existir

A EXISTIR surgiu em meados de 2002, por iniciativa de um grupo de pais de crianças com Síndrome de Down, com o propósito de constituir uma entidade privada, sem fins lucrativos, que apoiasse crianças portadoras de necessidades especiais, em especial a Síndrome de Down. Fundamos a Entidade em fins de 2004, com o seu registro em 25.01.2005, tendo por objetivo um projeto diferenciado, ou seja, trabalho em grupos de crianças com Síndrome de Down a partir dos 2 anos de idade.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Todo o talento de atores especiais

Grupo de teatro da Associação Cultural Fazendo Arte é formado por jovens com Síndrome de Down

Um elenco misto de pessoas com personalidades diferentes, e outras que precisam de alguns cuidados especiais. Assim é composto o grupo de teatro da Associação Cultural Fazendo Arte. Alunos portadores da Síndrome de Down se misturam com outros jovens, e trazem toda sua criatividade e espontaneidade para dentro das aulas e do palco, tornando cada dia uma experiência nova. A coluna Gente Jovem dessa semana conversou com pais desses atores especiais, pessoas do elenco e o diretor da Fazendo Arte, e descobriu o talento e a desenvoltura desses jovens, mostrando que para estar em cima do palco, é só uma questão de querer.

Não é sábado, é dia de teatro

Denilo, 19 anos, que é portador da Síndrome de Down, decidiu fazer três coisas em sua vida: academia, boxe e teatro, como conta seu pai, Miro Negrini. O teatro já está na vida de Denilo, e se tornou muito importante. Sábado é o grande dia, certifica Miro, se referindo aos ensaios e aulas teatrais. Os auxílios da vida artística foram muitos para o jovem, mas Miro ressalta principalmente a desenvoltura e a maior facilidade para se expressar. Ajudou muito na expressão corporal e a desenvolver a fala, afirma Negrini.

Seguindo sua própria vontade - assim como Denilo -, Felipe, 19 anos, começou no teatro há quase quatro anos, de acordo com sua mãe Leila Soares Silva Rocha. Houve até uma mudança radical na vida do jovem: ele emagreceu 35 quilos quando entrou no teatro. Tudo isso para ficar mais bonito no palco, conta Leila, com confirmação um pouco tímida do próprio Felipe, que estava sentado ao lado do repórter. Mas a felicidade de fazer teatro é imensa. Não é sábado, é dia de teatro. Nesse dia ele não tem nenhuma preguiça de levantar da cama, declara a mãe.

Bruna Mayumi, 22 anos, chegou à entrevista toda maquiada, usando uma coroa em sua cabeça, que faz parte de seu figurino da peça Sonhando com Alguém e Ninguém, em que representa uma rainha. Nós chegamos atrasados, pois ela estava se arrumando, conta seu pai Fausto de Barros, arrancando risos de todos. Para ele, Bruna estar fazendo teatro é uma grande vitória. Para quem é pai de um jovem que necessita de cuidados especiais, é muito gratificante. A aceitação, o entrosamento... Tudo isso não tem preço, confessa Fausto.

Camila, 28 anos, outra rainha da peça, chegou mais tímida com seu pai Gilson Carlos Alvarenga, mas logo demonstrou sua personalidade cativante e seu dom para o humor. Chegou cumprimentando a todos e sempre soltava comentários que faziam todos rir. Ela não tem vergonha. É no teatro onde Camila se sente à vontade, revela o pai.

Livres para brilhar

A evolução na convivência social é muito perceptível, segundo Miro, pai de Denilo. Ele acredita que o teatro é um importante caminho para o portador da Síndrome de Down se tornar mais independente. O Denilo se sente mais seguro quando está acompanhado. O teatro é uma forma de ele desenvolver mais sua autonomia, assegura.

Esse pensamento é seguido por outros pais de jovens com Síndrome de Down. Gilson, pai de Camila, acredita que os pais não devem isolar seus filhos, e sim os deixar livres para realizar as mais variadas atividades. Eles têm capacidade, é preciso mostrar a todos o potencial que possuem, pontua Gilson.

Etsuko Yabiku de Barros, mãe de Bruna, também defende a liberdade dos jovens para fazerem o que quiserem. Os limites são os próprios pais que põem, evidencia Etsuko. Nós nascemos para brilhar!, exclama Bruna.

Ainda existe o preconceito contra quem é diferente, mas de acordo com Miro, nesse grupo do Fazendo Arte não é assim. Preconceito existe em todos os lugares, mas no teatro é bem menos, revela.

Uma caixinha de surpresas

O elenco é quase todo formado por jovens com Síndrome de Down, portanto fazer aulas de teatro com eles se torna uma experiência diferenciada para quem não possui a doença. O convívio com eles é maravilhoso. Eles são criativos, espontâneos, confirma Sueleny Alves, 21 anos. Para a jovem, é preciso estar preparada para esperar de tudo. Estar no palco com eles é uma caixinha de surpresas. Nunca se sabe o que pode acontecer, conta Sueleny.

Rose Rodrigues entrou no grupo quando a peça já estava em andamento, portanto sentiu algumas dificuldades no começo. Eles empurram você para fazer as cenas. São muito generosos, ajudam muito, confessa Rose. Ela disse que estava com medo de entrar atrasada, mas a ajuda e o empurrão que teve por parte do elenco foi algo que a motivou a continuar.

A grande sensibilidade que os portadores de Down possuem é algo sentido por todos os componentes do grupo. Eles logo notam quando você está com algum problema, assegura Sueleny.

Isabelle Bichinski teve uma experiência que ela lembra até hoje. Um dia a jovem foi nos ensaios com alguma dor, o que despertou o interesse de uma atriz com Down do elenco. Quando cheguei em outro ensaio, ela veio e me disse: ‘Você está melhor? Eu rezei por você, sabia?, conta Isabelle.

Espontaneidade em primeiro lugar

Seguindo um preceito de deixar os alunos livres para criar, o diretor teatral Júnior Mosko, a pedido de pais de jovens portadores da Síndrome de Down, criou um projeto de inserção a essas pessoas no teatro. Esse trabalho é feito pelo diretor há quatro anos, anteriormente realizado no Sesi. Agora está sendo feito na Associação Cultural Fazendo Arte, fundada há um ano, onde esse grupo de jovens realiza suas aulas de teatro.

Mosko não conhecia a linguagem para trabalhar com esses jovens especiais, portanto recorreu a pesquisas para desenvolver o projeto. A metodologia encontrada foi por meio dos jogos teatrais, buscando trabalhar bastante a espontaneidade dos alunos. Os jogos dramáticos são muito bons, pois possuem mais conteúdo, especifica o diretor.

Na hora de criar uma peça, o texto fica em segundo plano, para deixar as mentes dos atores livres para estabelecer o que será mostrado no palco. Eu apenas dou as coordenadas, revela Mosko. Toda a sintonia e o decorrer dos acontecimentos é guiado pelos alunos. Quem se adapta a eles sou eu, completa o diretor. E ainda confessa: muitas vezes o material deles é muito superior ao que foi estabelecido.


Notícia publicada na edição de 02/01/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 5 do caderno B - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.

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