existir

A EXISTIR surgiu em meados de 2002, por iniciativa de um grupo de pais de crianças com Síndrome de Down, com o propósito de constituir uma entidade privada, sem fins lucrativos, que apoiasse crianças portadoras de necessidades especiais, em especial a Síndrome de Down. Fundamos a Entidade em fins de 2004, com o seu registro em 25.01.2005, tendo por objetivo um projeto diferenciado, ou seja, trabalho em grupos de crianças com Síndrome de Down a partir dos 2 anos de idade.

quarta-feira, 27 de maio de 2015


O Indispensável Despreparo Necessário à Educação Inclusiva
Por muito tempo acreditei, ou quis acreditar, ou me fizeram crer (difícil saber ao certo) que os principais problemas da educação inclusiva no Brasil seriam o despreparo e a falta de experiência dos professores. Santa ingenuidade, Batman. Só hoje consigo compreender que o “preparo” e a “experiência” tanto podem representar pontes desejáveis quanto armadilhas quase irreconhecíveis nos caminhos tortuosos ou retilíneos da educação e do aprendizado dos alunos com deficiência, especialmente daqueles com deficiência intelectual.

É que o atributo da experiência, mesmo que para uns signifique aprendizado, para outros tantos significa apenas acúmulo. E o acúmulo de más experiências e baixas expectativas pode ter um resultado pior que a encomenda, ou seja, pode colaborar em compreensões e abordagens pré-estruturadas e negativas dos indivíduos, no caso os alunos.

Assim, não é incomum encontrar-se professores que alimentam a crença de que seus alunos podem ser tomados genericamente com base em um CID ou diagnóstico e que, portanto, basta replicar possíveis fórmulas de sucesso e evitar previsíveis receitas de fracasso para que as coisas aconteçam. Vã ilusão. Cada ser humano é inesperado e enquanto pensarmos que é possível encaixotá-los em categorias da “diversidade” não avançamos além da rotulagem mais do que imaginamos, quando não apenas se está a reforçar ainda mais, mesmo que de uma maneira aparentemente democrática, a bem conhecida estigmatização.

Por mais estranho que pareça, sempre tive melhor (no meu caso pessoalíssimo) sorte com professores despreparados. É sério, não é piada. Não faço piada sobre esse tipo de assunto porque realmente às vezes é difícil distingui-la de algumas coisas, novidades, cursos, eventos,  publicações e teorias que parecem muito sérias, mas que na prática nem sempre são tão sérias e aproveitáveis assim. Não vou citar nomes aqui não por uma questão de respeito ou indulgência, mas porque há muitas sobre as quais ainda tenho muitas dúvidas e se encontram sob investigação.
Das muitas vantagens de um professor despreparado, eu citaria rapidamente a principal delas: um professor despreparado tem muito menos preconceitos e ideias errôneas em mente que aqueles que optaram por uma compreensão unidirecional dos processos de construção/aquisição/elaboração/ou seja lá o que for do conhecimento. Ele está aberto a surpresas enquanto o “preparado” predominantemente imagina que já sabe o que vai encontrar, carregando na sua compreensão e práticas muitas vezes mais os quilogramas de conceitos e preconceitos disponíveis no mercado de ideias que o mínimo indispensável ao ofício: amor e respeito às crianças pelo que elas são.

Essa vantagem poderia ser suficiente para encerrar minha argumentação, mas ainda há outras de que não posso esquecer. O professor “despreparado”, por exemplo, pode afeiçoar-se pelos alunos individualmente (ou seja, suas pessoinhas) enquanto os “preparados” lidarão sempre com categorias de alunos. Os “inexperientes” procurarão entender o percurso individual do aluno de uma forma natural, já o “experiente” poderá tentar empilhar o sujeito (ou sujeitinho) em alguma camada do seu know-how prévio. E, glória das glórias, o “experiente e preparado” poderá tentar repetir fórmulas indefinidamente, enquanto que o “despreparado” será sempre obrigado a procurar caminhos e alternativas, instigando-se a si mesmo, o que é uma característica das mais desejáveis para a profissão.

Então quero dizer com isso que não existe preparo adequado ou ganhos pela experiência que sejam possíveis? Claro que não quero dizer isso. Mas então.. eis a pergunta que não quer calar: como saber? Não sei. Realmente não sei. Se eu dissesse que sei então estaria incorrendo no mesmo erro que acabo de condenar, que tenho a fórmula, como se alguém pudesse ser ou portar-se como uma agência de certificação, não que algumas pessoas não tentem ser um tipo de oráculo educacional. Definitivamente, os há. E como! Demasiado até, no meu ponto de vista.
Quero dizer com isso que um professor despreparado fará melhor trabalho que um mais preparado? Também não sei. Não tenho como saber. Fazê-lo seria aplicar a mesma regra com que muitos professores empregam a seus alunos, encaixotando-os e rotulando-os. Não é disso que se trata. Estou pensando e falando sobre comportamento real, não sobre teoria ou literatura científica.

O que eu quero dizer essencialmente para pais como eu, de crianças pequenas que dependem muito de uma comunicação indireta ou mediada por profissionais externos para revelar seus problemas e progressos, é que encontrar um professor “despreparado”, mas realmente dedicado e interessado, pode ser em muitos casos a verdadeira sorte grande, com quem será possível aprender e compartilhar para um mútuo proveito.

E também que, infelizmente, encontrar um professor “preparado” e “experiente” ou tudo isso conjugado nem sempre é garantia de coisa alguma, não cabendo, ressalte-se, tomar isso como regra. É claro que a soma de boas experiências e boa fundamentação teórica é o substrato ideal para que um professor encare satisfatoriamente a sua tarefa, embora haja muitas coisas a considerar também, desde a questão salarial, suporte, recursos adequados e espaços reais de colaboração com as famílias, que são os interessados finais no processo todo, afinal de contas.

Longe de mim querer ser ou parecer ser o agente da “intranquilidade”, mas de certo modo é exatamente disso que se trata. É claro que as metodologias de ensino são importantes e tudo o mais, mas igualmente é necessário restabelecer um pouco de espanto, surpresa e curiosidade no processo educacional como um todo, sob pena de que ele resulte artificial e com pouquíssimos atrativos, especialmente em se tratando do público infantil.

A infância, como sabemos, é um momento único na vida. Para os pais e mães de crianças pequenas – e nesse ponto se são crianças com deficiência intelectual ou não isso pouco importa -, seus filhos não podem ser resumidos em oportunidades ou experiências de maior ou menor sucesso escolar, mas constituem e integram efetivamente suas famílias e, através da escola, eles esperam apenas que ela os ajude a pertencer dignamente à sociedade. Se o preparo e a experiência conspirarem a favor dos alunos, então está tudo ótimo e há pouco a melhorar. Caso contrário, talvez seja interessante convidar os educadores a restituírem pelo menos um pouco a importância da dúvida para a constituição do saber. E isso não requer tanto preparo quanto, talvez, um pouquinho mais de boa vontade.
Por Lucio Carvalho - Coordenador-Geral da Inclusive – Inclusão e Cidadania.



Fonte: http://www.inclusive.org.br/?p=27205

Fórum Mundial Aprova Visão Transformadora Para Educação Inclusiva e de Qualidade
Uma visão transformadora para a educação para os próximos 15 anos foi adotada no Fórum Mundial de Educação, que se encerrou nesta quinta-feira (21) em Incheon, na Coreia do Sul. A Declaração de Incheon foi acolhida pela comunidade mundial de educação, incluindo ministros de governo de mais de 100 países, organizações não governamentais e grupos de jovens.
Ela incentiva os países a fornecer educação inclusiva, igualitária e de qualidade, além de oportunidades de aprendizagem ao longo de toda a vida para todos. A Declaração será a base das metas de educação nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que serão ratificados pelas Nações Unidas em setembro.
“Essa Declaração é um grande passo à frente”, disse a diretora-geral da UNESCO, Irina Bokova. “Ela reflete a nossa determinação em garantir que todas as crianças e jovens adquiram os conhecimentos e as habilidades de que necessitam para viver com dignidade, para alcançar seu potencial e contribuir para suas sociedades como cidadãos globais responsáveis. Ela incentiva os governos a oferecer oportunidades de aprendizagem ao longo da vida, para que as pessoas continuem a crescer e a se desenvolver. Ela afirma que a educação é a chave para a paz mundial e para o desenvolvimento sustentável.”
A Declaração de Incheon tem como base o movimento mundial de Educação para Todos (EPT), que teve início em Jomtien, na Tailândia, em 1990, e foi reiterado em Dacar, no Senegal, no ano 2000. A EPT e o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (ODM) de Educação tiveram como resultado um progresso significativo, mas muitas de suas metas, incluindo o acesso universal à educação primária, permanecem inalcançados. Atualmente, 58 milhões de crianças continuam fora da escola – a maioria meninas.
Além disso, 250 milhões de crianças não estão aprendendo as habilidades básicas, ainda que metade delas tenha frequentando a escola por pelo menos quatro anos. A Declaração de Incheon deverá finalizar as ambiciosas agendas da EPT e dos ODM.
“Se esta geração de crianças irá um dia reduzir as desigualdades e as injustiças que afligem o mundo de hoje, temos de dar a todas as nossas crianças uma chance justa de aprender. Tal deve ser nossa a visão coletiva e o nosso comprometimento”, disse o diretor-executivo do Fundo da ONU para a Infância (UNICEF), Anthony Lake.
Marco de Ação Educação 2030
A Declaração de Incheon será implementada por meio do Marco de Ação Educação 2030, que fornece as coordenadas a serem adotadas pelos governos até o fim do ano. Ele fornecerá orientações sobre marcos efetivos, legais e de políticas para a educação, com base nos princípios de responsabilização, transparência e governança participativa. A implementação efetiva vai demandar uma coordenação regional firme, bem como monitoramento e avaliação rigorosos da agenda de educação. Também irá demandar mais financiamento, especialmente para os países que estão mais longe de fornecer educação inclusiva e de qualidade.
A Declaração e o Marco irão incentivar os países a determinar metas nacionais apropriadas de gastos e a aumentar a Assistência Oficial para o Desenvolvimento para países de baixa renda.
“A discussão foi muito enriquecedora, em especial o debate sobre indicadores e qualidade da educação. A UNESCO vê a qualidade de uma forma mais holística, no sentido de que não é um fator único que garante a qualidade da educação, mas uma conjunção de fatores: pertinência, equidade, inclusão e aprendizagem. A declaração, aprovada em consenso por todos os países, traz compromissos bastante importantes, para que a gente possa ter depois um marco de ação, com metas e objetivos”, disse a coordenadora de Educação da UNESCO no Brasil, Rebeca Otero, destacando que nos estão previstos para os próximos meses encontros para estabelecer o financiamento que garanta essa nova agenda para a educação.

Fonte:  http://www.inclusive.org.br/?p=28103
Projeto ajuda portadores de síndrome de Down a morar sozinhos
Fabiana Marchezi
Do UOL, em Campinas (SP)
24/05/201506h00
“Faço tudo sozinha, trabalho, sou independente, mas quero ter minha casa, quero minha privacidade. Não quero morar com a minha mãe a vida inteira', afirma Marina Rodegheri Vieira, de 30 anos”
Morar sozinho e ter uma vida independente são os principais anseios de muitos adultos com síndrome de Down, mas a preocupação dos pais, mesmo com os filhos já crescidos, muitas vezes impede que eles realizem esse sonho. Entretanto, um projeto iniciado há dois anos em Campinas (SP) quer, de maneira segura, tornar esse sonho realidade. Idealizado pela Fundação Síndrome de Down, o plano tem o objetivo de ajudar essas pessoas a encontrar um lar e de dar suporte para que elas se tornem independentes.
"Faço tudo sozinha, trabalho, sou independente, mas quero ter minha casa, quero minha privacidade. Não quero morar com a minha mãe a vida inteira", disse Marina Rodegheri Vieira, de 30 anos, que nasceu com síndrome de Down, mas leva uma vida normal e será a pioneira do projeto.
Mesmo com um pouco de receio, a mãe dela, Valdirene Marta Bodegheri, aceitou a proposta e já colocou um imóvel à venda para realizar a vontade da única filha. "É claro que vai ser difícil, mas não só por causa da síndrome. Eu me dediquei a ela nos últimos 30 anos e a separação vai ser dolorosa, mas sei que ela precisa ter a vida dela e vou dar todo o apoio. É claro que ter o respaldo da fundação me dá mais tranquilidade. Mas sei que ela está preparada. Ela já é muito independente e quero vê-la feliz", conta.
Nos últimos dois anos, a fundação, sediada em Campinas, conversou com 180 famílias de portadores de Down sobre a emancipação de seus filhos. "Sensibilizamos as famílias porque todos têm o direito de escolher onde morar, com quem morar e quando sair de casa", explica a psicóloga Carolina de Freire Carvalho Carvalho, coordenadora-geral da fundação.
O plano aposta nessa experiência de "sair da casa dos pais" como uma forma de garantir os direitos das pessoas com deficiência intelectual e, também, de melhorar significativamente a autonomia, a independência, os relacionamentos interpessoais, a participação comunitária e principalmente o bem-estar pessoal.
"O apoio é bem amplo e individualizado. Vai desde ajudar a encontrar um imóvel bem localizado, ou seja, perto de supermercados, farmácias, pontos de ônibus, até a organizar a rotina e ajudar nas tarefas mais básicas, como fazer compras, separar as roupas e organizar as contas. E não há custo", afirma a psicóloga.
Segundo a psicóloga, a ideia é que, com o tempo, o projeto se espalhe pelo país. "Nosso objetivo não é criar um espaço ou um condomínio cheio de pessoas com Down. O que queremos é inseri-los em uma vida normal. Torná-los vizinhos de pessoas comuns e dar todo o apoio, como encontrar uma casa perto de centros comerciais, com fácil acesso ao transporte público, para que eles levem uma vida normal, como todo mundo", ressalta Carvalho.
Inspiração
O projeto Moradia Independente em Campinas é inspirado em um similar organizado pela Fundação Catalana, na Espanha, que atualmente apoia 100 pessoas com Down que vivem sozinhas no entorno de Barcelona.

"Nosso projeto começou há 15 anos e nunca registramos nenhum incidente grave. O que prova que uma pessoa com Down é capaz de viver sozinha", disse Josep Ruf Aixas, coordenador da Fundação Catalana.
"Não deixe que o medo da sua família te faça ficar morando junto com ela. Mães, aprendam a transformar o medo dos seus filhos em coragem", afirmou Andy Trias, adulto com síndrome de Down que mora sozinho em Barcelona.

Fonte: http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2015/05/24/projeto-ajuda-portadores-de-sindrome-de-down-a-morar-sozinhos.htm