Pela primeira vez um tratamento contra
síndrome de Down demonstra eficácia
A queda de um dos
grandes dogmas da medicina pode estar próxima
POR Pâmela
Carbonari ATUALIZADO EM 07/06/2016
A
síndrome de Down é um transtorno genético que não tem cura - pelo menos não
ainda. Mas essa máxima da medicina pode estar com os dias contados. Um novo
estudo espanhol demostrou que um composto extraído do chá verde é capaz de
melhorar a capacidade intelectual e cognitiva de pessoas com síndrome de Down.
Essa é a primeira vez que um tratamento tem resultados positivos para minimizar
os efeitos da síndrome.
Ela
atinge uma pessoa a cada mil no mundo e acontece quando há 3 cromossomos 21 em
todas ou em grande parte das células de um indivíduo. Os portadores dessa
trissomia têm 47 e não 46 cromossomos, como a maioria da população. Essa cópia
extra altera a formação do corpo e do cérebro. Crianças com síndrome de Down têm
mais dificuldades no desenvolvimento intectual e as características físicas são
facilmente reconhecíveis, como uma única risca na palma da mão e o nariz
achatado.
A
descoberta espanhola é importante porque o composto pode ajudar a regular a
expressão de alguns dos mais de 300 genes do cromossomo 21, inclusive aqueles
responsáveis pelo atraso cognitivo, pela capacidade de memorização e pelas
conexões neurais. Apesar de não ser a cura para síndrome de Down, o estudo abre
portas para novas investigações dessa alteração genética que, até então, era
órfã de tratamento e só dispunha de vitaminas, hormônios e outras substâncias
sem comprovação científica.
LEIA: Genética: os
eleitos
A
pesquisa, recém-publicada na revista Lancet Neurology, foi conduzida pelo
Centro de Regulação Genômica em parceria com o Instituto Hospital del Mar de
Investigações Médicas de Barcelona e dividida em duas etapas: a primeira com
ratos e a segunda com 84 pessoas.
Na
primeira fase, os cientistas identificaram o gene DYRK1A, associado à formação
do cérebro e superativado pelo cromossomo extra. Esse gene produz proteínas em
excesso relacionadas a alterações cognitivas - 1,5 vezes mais em pessoas com
Down. O polifenol presente no chá verde, a epigalocatequina galato, inibe e
normaliza a produção da enzima DYRK1A. Além disso, ele é capaz de melhorar
algumas capacidades intelectuais e altera os estímulos e conexões do cérebro de
portadores da síndrome de Down.
Cientes
da capacidade do composto de chá verde de modificar a plasticidade do cérebro,
os pesquisadores decidiram testá-lo em humanos. No total, 84 pessoas com
síndrome de Down entre 16 e 34 anos participaram: a metade deles recebeu um
placebo e fazia exercícios de estímulo cognitivo; o outro grupo fez os
mesmos exercícios, mas, ao invés de placebo, tomou 9 miligramas de
epigalocatequina por peso diariamente durante um ano.
Depois
disso, os participantes responderam uma série de testes para medir suas habilidades
intelectuais, motoras, de comportamento e memorização. Naqueles que tomaram o
extrato foi possível notar uma leve melhora na memória a curto prazo, na
capacidade de se organizar no dia a dia, de se adaptar e uma
diminuição na impulsividade. As imagens do cérebro dos pacientes mostram um
aumento das conexões neurais na região frontal do cérebro, o que sugere que, de
fato, houve um aumento no processamento de informações.
Uma das
líderes do estudo, a neurocientista Mara Dierssen, explica que, apesar das
mudanças observadas nos testes finais não terem sido muito significativas (não
apresentaram evolução em 13 dos 15 testes), elas foram suficientes para que os
pais de quase todos os voluntários pudessem perceber se o filho tinha tomado o
tratamento de chá verde ou o placebo.
Não
tente fazer isso em casa
Mas não
se engane, a cura não está necessariamente dentro de um saquinho de chá. Para
igualar na xícara a quantidade de epigalocatequina que os voluntários tomaram
durante o experimento, deveriam ser consumidas oito xícaras de chá verde por
dia ao longo de um ano todo. Além de ser uma quantidade absurda da bebida,
existe uma infinidade de marcas de chá verde que possuem outros componentes
junto com o extrato. Os pesquisadores alertam para que as famílias consultem
seus médicos de confiança e não se atirem no mercado atrás de qualquer chá.
Os
pesquisadores pretendem continuar as investigações, mas, dessa vez com meninos
e meninas portadores da síndrome de Down. A explicação é simples: as mudanças
cerebrais são limitadas em adultos, porque o cérebro já está totalmente
desenvolvido, mas se o tratamento for aplicado em crianças, a esperança é de
que os efeitos sejam ainda melhores. E aí, aceita uma xícara?
FONTE: http://super.abril.com.br/ideias/pela-primeira-vez-um-tratamento-contra-sindrome-de-down-demonstra-eficacia
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